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MARIA DA GLÓRIA

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No depoimento de Dante Giudice, amigo de longa data da célebre Maria da Glória, esse salienta o seu caráter modesto ao destacá-la como: “[...]uma mulher inteligente, de uma simplicidade ímpar, desprovida de vaidade acadêmica. Fugia de homenagens e reverências [...]”. Maria da Glória tinha como linhas de pesquisa: a evolução e metalogênese de terrenos paleoproterozóicos e arqueanos; sistemas deposicionais; evolução de terrenos arqueanos e paleoproterozóicos; caracterização tipológica e matalogênese de corpos máficos e ultramáficos; evolução e metalogênese de sequência Vulcano-sedimentares do tipo Greenstone Belts, como consta em seu currículo lattes. Seus conhecimentos se concentravam em áreas como: geoquímica, geotectônica, metalogenese e petrologia, o que favoreceu sua inserção no espaço acadêmico como professora universitária da pós-graduação em 1988 e também anteriormente como professora associada I, em 1977.

A professora Maria da Glória da Silva foi uma das primeiras mulheres pretas a fazerem parte do quadro de professores do Instituto de Geociências. Muito dedicada e querida por muitos, conhecemos a pró Glória através de sua ex-aluna, Dira Góes, geóloga negra, que atua hoje no Estado do Espírito Santo. Quando Dira ingressou na Universidade, no ano de 2011, conheceu e inspirou-se na professora, que é referência para ela até hoje. Graduada em Geologia pela Universidade Federal da Bahia (1975), Mestre em Geologia pela Universidade Federal da Bahia (1983) e Doutora em Geologia pela Albert-Ludwigs Universität, Freiburg, Alemanha (1987), a professora Glória, durante seus mais de 35 anos de docência atuou, principalmente, no ensino de graduação, pósgraduação e na pesquisa científica apoiando a formação de várias gerações de geólogos, mestres e doutores em Geologia, particularmente em temas relacionados com Petrologia, Geoquímica e Metalogenia. Ela era Professora Associada da UFBA e estava cedida ao Ministério de Minas e Energia, onde exercia o cargo de Assessora da Presidência do Serviço Geológico do Brasil - CPRM. A professora Glória morreu na madrugada do dia 21/03/2013.

Dira relata uma memória (do início da graduação) sobre uma palestra ministrada por Maria da Glória, que, segundo ela: “[...]não conseguia desviar a atenção. Não conseguia não sentir prazer em assistir aquela palestra. E até hoje, essa palestra que a professora Maria da Glória ministrou foi uma das mais empolgantes que eu já assisti em toda a minha vida profissional [...]” e que para ela foi algo marcante, destacando a leveza, empolgação e simplicidade de Maria da Glória. E, Dira como mulher preta, no início da graduação na época, aponta o fato de que “[...] foi extremamente incrível ver aquela mulher, que era preta, naquele ambiente acadêmico majoritariamente masculino e branco, falando com tanta propriedade, com tanta segurança e com tanta empolgação sobre geologia [...]”. Ainda, Dira salienta em seu depoimento que uma característica marcante de Maria da Glória era a simplicidade e que: “[...] a professora Maria da Glória, na minha carreira profissional, me inspirou da mesma forma que a minha mãe me inspirou para vida[...]”. Inspiração, Maria da Glória se destaca como uma inspiração para muitos jovens geólogos e geólogas negros, ingressos no Instituto de Geociências ao longo desse tempo, de forma que pudesse, mesmo após a sua morte, transcender o tempo e chegar a jovens negros ingressos na UFBA em 2018 (chamamos isso de força ancestral). Dira cita também, que “[...] para ela que entrou em 2007 foi uma vivência (na UFBA) ausente de representatividade. E a minha representatividade era a professora Maria da Glória. Eu fico imaginando como foi isso para ela[...]”. Representatividade, outra característica importante, em qualquer meio. Nas geociências, para os jovens negros ingressos, a representatividade não se faz tão presente como gostaríamos, uma vez que possuímos poucos professores negros. O que nos leva a destacar outra fala de Dira, em que ela diz: “Com certeza a vivência dela dentro da UFBA, foi uma vivência racialmente sofrida e solitária”.

Como docente, Maria da Glória nos atingiu primeiro como exímia profissional, segundo como mulher negra, de origem humilde, pertencente a um ambiente majoritariamente masculinizado e branco. Seja na época em que ela se graduou ou agora, ainda compartilhamos o fato de as geociências possuir esse padrão, que podemos descrever apenas com uma única palavra: “branco”. O que levou as fundadoras a se questionarem o que leva uma profissão a possuir esse padrão tão notório de profissionais durante tanto tempo. E isso nos motivou a procurar referências negras nesse instituto e em outras partes do Brasil, que demandou alguma dificuldade. Então, a você leitor, diante de tão descrição, analisando os trabalhos agrupados aqui, deixa-se a seguinte pergunta: o que leva personalidades como Maria da Glória a serem esquecidas dessa forma, tal sendo sua contribuição para essa área e como docente na Universidade Federal da Bahia?

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