Já imaginou ouvir: "Desculpa, você não atende ao perfil da empresa" ?

A frase que aparece na imagem é retrato da experiência de inúmeras pessoas, no entanto, para a população negra muitas vezes é necessário ler nas “entrelinhas”. Essas entrelinhas são escritas pelo racismo estrutural enraizado em todos os meios da nossa sociedade e no mercado de trabalho não seria diferente. Um jovem negro ao lançar-se no mundo profissional, encara mais um desafio: a barreira gerada pelo padrão estético.

O mercado de trabalho reproduz padrões pautados na estética branca, isso fica evidente quando observamos que cabelo crespo ou cacheado não tem uma boa recepção em uma entrevista comparada a um cabelo liso. Ao impor condições estéticas para se qualificar, esse meio exprime sua aversão pela diversidade.

Essa situação dá vida ao conto escrito por Cristiane Sobral, intitulado “O Tapete Voador”, no qual retrata o processo de “embranquecimento” no qual a personagem teria que se submeter para ser bem aceita no cargo que queria atingir. A autora destaca no conto o quanto o cabelo da personagem é alvo de incômodo por parte de seu chefe, que, dada a própria experiência, entendia que para se adequar àquele ambiente deveria ceifar seus elementos estéticos e culturais.

Infelizmente, Sobral descreve a realidade de muitos jovens negros quando se deparam com um ambiente de trabalho que reproduz veladamente a estrutura racista em que estamos inseridos. E o pior é quando as experiências dos sujeitos são invalidadas, reduzidas a “isso é coisa da sua cabeça”, porque tal preocupação não faz parte de uma parcela significativa da população. Lamentavelmente, a realidade das pessoas negras as induziu a ler nas entrelinhas.