Bahia: local de entrada dos portugueses no Brasil e palco da efetiva independência
- Coletivo Maria da Glória
- 2 de jul. de 2021
- 3 min de leitura

A frase “Independência ou morte”, dita por Dom Pedro I, marca a independência do Brasil em 7 de setembro de 1822. No entanto, em solo baiano a efetiva independência se configura após a expulsão dos resquícios das tropas portuguesas do Brasil, em 2 de julho de 1823. Esse momento caracterizou-se como o alicerce para a criação da ideia de uma unidade nacional, de território brasileiro, uma vez que os conflitos ocorridos nesse período contavam com a participação ativa da população indígena, negros e brancos em prol da liberdade nacional.
Tais batalhas e personagens compõem os temas incorporados no festejo baiano de 2 de julho, que recria e enaltece a independência da Bahia e os símbolos nacionais. Desde 1824 o festejo acontece; o espírito cívico inunda os locais que constituem os principais cenários de batalha, através dos adornos com as cores da bandeira do Brasil e da Bahia. E a população sai às ruas para celebrar o fim do despotismo, irradiando a concepção de unidade e da consolidação de uma nação independente, como expresso na letra do hino de 2 de julho:
“Nasce o sol a 2 de julho Brilha mais que no primeiro É sinal que neste dia Até o sol é brasileiro
Nunca mais o despotismo Regerá nossas ações Com tiranos não combinam Brasileiros corações
Cresce, oh! Filho de minha alma Para a pátria defender, O Brasil já tem jurado Independência ou morrer
Nunca mais o despotismo Regerá nossas ações Com tiranos não combinam Brasileiros corações
Salve, oh! Rei das campinas De cabrito a Pirajá Nossa pátria, hoje livre Dos tiranos não será”
Música: José dos Santos Barreto Letra: Ladislau dos Santos Tita

Embora bem-sucedido, o período que antecedeu a independência da Bahia foi bem conturbado e cheio de conflitos de interesses internos, principalmente entre alguns senhores de engenho que temiam o clima de instabilidade que se instaurou (que poderia culminar em rebelião nas senzalas) e os militares, outros senhores de engenho, população em geral, que viam o controle português como empecilho e almejavam autonomia política. Não à toa, muitos homens e mulheres escravizados aproveitaram esse momento para fugir e até se inserirem no exército brasileiro na luta contra os portugueses, a fim de reivindicar sua alforria.

Dessa forma, podemos destacar a atuação de Maria Felipa, que, conjuntamente com outros negros e índios, queimaram embarcações portuguesas na Ilha de Itaparica; o índio Bartolomeu, no Litoral Norte, que chefiou os índios tapuias flecheiros na Batalha de Pirajá; e, também, personalidades mais evidenciadas como Maria Quitéria, Joana Angélica. Ressalta-se ainda, os milhares de heróis anônimos recrutados (composto de negros que ganharam sua liberdade, índios, negros escravizados e alguns brancos pobres), que não tiveram seus nomes escritos nos anais da história, mas que representam o povo em geral, que efetivamente emprega suas forças para a construção do país, assim como observa-se nos dias atuais.
“Existe uma história do negro sem o Brasil, o que não existe é uma história do Brasil sem o negro”
Januário Garcia
Um outro ponto a se evidenciar nos festejos 2 de julho, além da diversidade cultural, é a visibilidade dos caboclos e dos elementos de origem indígena no desfile, como a representação de um símbolo verdadeiramente nacional. O que nos faz lembrar o descaso com que esses povos tradicionais vêm sendo tratados desde o dia que os portugueses pisaram no Brasil e que os governantes continuam a perpetuar, com suas políticas - ou falta delas – a exploração das terras que pertencem a população indígena. O exemplo atual é a PL 490, os massacres nas aldeias, os extensivos protestos ignorados pela mídia. O nosso símbolo nacional está morrendo!

Fonte: 2 de julho: a Bahia na independência nacional (2011). Bahia. Secretaria da Cultura. Fundação Pedro Calmon. Acesso em:<http://200.187.16.144:8080/jspui/bitstream/bv2julho/232/1/A%20Bahia%20na%20Independ%c3%aancia%20Nacional%20-%20Cartilha%202%20de%20julho.pdf>
Imagem 1: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/07/02/grito-dos-isolados-ausencia-do-povo-no-2-de-julho-por-causa-da-pandemia-desafia-a-buscar-novas-formas-de-ocupar-projeto-nacional.ghtml
Imagem 2: https://guianegro.com.br/2-de-julho-feriado-na-bahia-pela-independencia-do-brasil/
Imagem 3: https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/06/pl-490-equivale-a-condenar-a-morte-os-povos-indigenas-e-um-genocidio-diz-deputada-do-pt/
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