O mito da energia limpa: altos riscos e contaminação ambiental

No sertão baiano está situada a única unidade minero-industrial de urânio em atividade no Brasil, mais precisamente entre os municípios de Caetité e Lagoa Real, aproximadamente a 750 km de Salvador, a mina tem 1.800 hectares de extensão, e estimam que as reservas apresentem cerca de cem mil toneladas.

A composição mineralógica de algumas rochas viabiliza a ocorrência de elementos radioativos naturais associados a essas, e a determinação destes elementos e de seus teores pode fornecer dados adicionais sobre as características dessas.

O Urânio é um elemento radioativo e um dos principais precursores de radionuclídeos naturais, é extraído da uraninita e de outros minérios contendo fosfatos e arsênio, purificado e concentrado sob a forma de um sal de cor amarelada.

A maioria dos rios que passam pela região é intermitente, no inverno tem períodos de seca, mas o sistema aquífero apesar de fissural, com baixa produtividade, consegue suprir as regiões com escassez de água. Após a instalação da mina houve um significativo aumento da demanda, o que trouxe conflitos pelo uso da água, por causa das operações de produção industrial pelo crescimento da população.

Um estudo da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) usou dentes humanos coletados de clínicas odontológicas da região para medir o grau de contaminação ambiental por urânio por meio dos níveis de incorporação desse elemento químico pela população, levando em consideração que o valor do resultado para esses indicam a quantidade por unidade de massa no esqueleto todo. A conclusão dada foi que os residentes de Caetité e Lagoa Real possuem índices corpóreos de urânio bastante alto, em Caetité foi apontado uma incorporação média de urânio cerca de 100 vezes maior que a média mundial, o que pode desencadear diversos problemas de saúde, como o aumento de casos de neoplasias (multiplicação anormal de células do tecido de algum órgão).

Uma vez disponibilizado no meio ambiente o urânio pela poluição atmosférica decorrente das detonações das rochas (com a liberação de poeira radioativa) e entra na cadeia trófica pelo consumo de água ou alimentos contaminado. A falta de transparência quantos as atividades de gestão ambiental da mineradora, a sonegação de informação e a desinformação quanto aos riscos e impactos associados somam os precursores de uma tragédia silenciosa, o que muitos acreditam que é uma fonte de energia limpa por não emitir CO2 pode custar caro, várias vidas.